Dia Mundial da Água: bem ameaçado no DF
Lagoa Bonita, na Estação Ecológica Águas Emendadas (foto: Evandro Ferreira) |
Avança a escassez de recursos hídricos no Distrito Federal. O risco de colapso na oferta de água é crescente e segue em ritmo acelerado, ao mesmo tempo em que desperdício aumenta. O alerta foi dado pelo atual presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Célio Biavati, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, no início de fevereiro deste ano. Em cinco anos, Brasília poderá ficar sem água suficiente para atender à demanda dos seus mais de 2,5 milhões de brasilienses, que consomem 88% do que é produzido no Distrito Federal.
A advertência de Biavati não é inédita. A dimensão dessa catástrofe vem sendo anunciada há alguns anos e tem sido negligenciada pelas autoridades brasilienses. Os investimentos na preservação de mananciais e na modernização da rede elétrica ficaram muito aquém do necessário nos últimos governos.
Até agora, o desperdício também não mereceu uma ação mais rigorosa da fiscalização. Calcula-se que 2,1 mil litros por segundo são retirados dos rios, mas não chegam às casas. Ou seja, essa perda corresponde a 24% da água coletada pela Caesb e é menor do que a média nacional que chega 37,4%. Em países europeus, o desperdício corresponde a 15%. A situação no DF é agravada pela ocupação irregular do solo, que tem impactado negativamente na oferta de água.
Um olhar mais atento constatará a situação de risco permanente a que está submetida a Estação Ecológica de Águas Emendadas (Esecae), situada a 50km ao nordeste do centro da capital federal. Vizinha a área de 10,5 mil hectares há plantações de soja, além de uma área habitacional bastante densa. Nessa estação nascem duas das principais bacias hidrográficas brasileiras: ao norte, a bacia do Tocantins, e ao sul, a bacia do Paraná-Prata.
Diante de tantas ameaças, volta à discussão a criação do Setor Catetinho, na saída sul do DF. O polêmico setor, condenado pelos ambientalistas, teria capacidade para abrigar 40 mil pessoas no território da Área de Proteção Ambiental das Bacias dos Ribeirões Gama e Cabeça de Veado, no seu limite sudoeste. Estararia inserida ainda na APA do Planalto Central, de gestão federal, e seria vizinha da Área de Proteção de Manancial Catetinho.
Apesar de todos os estudos científicos existentes sobre a importância da região do Catetinho para o abastecimento de água na capital federal, a pressão do setor imobiliário curva o governo do DF. Assim, o tema voltou ao debate no último fim de semana. Os interessados na construção do bairro eram maioria. Da parte do governo, apesar do tema ter sido tratado com base no conhecimento científico, não faltou quem tentasse dar um tom de alarmismo às advertências dos ambientalistas, que eram minoria na discussão.
Em 2008, o ex-presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maior, colocou-se contrário à criação do bairro, apesar da pressão que o então governador José Roberto Arruda fazia sobre a Câmara Legislativa para ter o projeto aprovado com rapidez. Naquele ano, ele enviou documento a Arruda em que alertava sobre os implicações da implantação do novo setor habitacional: "... fere várias normas ambientais, provocando, no futuro, grave assoreamento e poluição do Ribeirão do Gama, um dos principais contribuintes do Lago Paranoá, além de comprometer as nascentes do histórico Catetinho, que abastecem parte do Park Way e Núcleos Rurais com água potável”. Souto Maior ainda acrescentou: “A efetiva implantação dessa nova cidade, prevista inicialmente para 40.000 habitantes, aponta uma nova ‘Águas Claras’ e, entendemos, está na contramão do que o governo do Distrito Federal prevê com relação ao sistema de tráfego nesse eixo de acesso a Brasília. E também na contramão das propostas de cidade sustentável. Ademais, vale ressaltar que essa proposta foi amplamente rejeitada pelas comunidades moradoras da Bacia do Paranoá e é hoje, objeto de processo judicial”.
Na véspera do Dia Mundial da Água, o tema está sobre a mesa de debates, depois que o governo petista decidiu rever o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot). É mais um passo, como advertiu Souto Maior, no sentido inverso ao da sustentabilidade. A dilapidação do patrimônio ambiental é uma ameaça à vida indissociável da oferta de água.
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