Brusone prejudica safra de trigo no Cerrado

Por Gustavo Porpino*

A ocorrência maior de chuvas no Brasil Central nos meses de abril e maio deste ano, aliada ao aumento da temperatura, está favorecendo a propagação do fungo pyricularia grisea, causador da brusone, doença que mais causa danos às lavouras de trigo no Cerrado.
O pesquisador Júlio César Albrecht, da Embrapa Cerrados (Planaltina - DF), destaca que alguns produtores do Distrito Federal e Goiás estão com quase a totalidade da produção comprometida pela brusone. “Os plantios realizados em abril tiveram perdas mais severas”, comenta Albrecht.
Para o pesquisador, o aumento da incidência da doença não significa descuidos do produtor. O problema está mais relacionado às temperaturas mais altas e as chuvas tardias ocorridas neste ano. “Em algumas regiões do Cerrado as chuvas se estenderam até o final de maio e favoreceram o aparecimento da brusone”, lembra.
Segundo dados da estação meteorológica da Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina – DF, a ocorrência de chuvas em abril e maio deste ano foi mais do que o dobro da média do período de 1974 a 2007. A média histórica de precipitação para o mês de abril é 91,4 milímetros e 24,6 milímetros para maio. Neste ano, as chuvas atingiram 219 milímetros em abril e 77 milímetros em maio.
As condições de clima que favorecem a doença são alta umidade e longo período de molhamento foliar (8 a 14 horas) associados a temperaturas entre 21-29ºC, com o ótimo em torno de 25ºC.
O pesquisador ressalta que outro fator que favorece a disseminação da brusone é o grande número de hospedeiros alternativos para a doença existentes na região. “Os propágulos do patógeno podem ser disseminados pelo vento a longas distâncias, e a doença se distribui de forma generalizada na lavoura”, destaca.
A brusone, doença originalmente presente apenas na cultura do arroz, foi primeiramente identificada em lavouras de trigo em 1985 no estado do Paraná. “A brusone do trigo não infecta o arroz, mas do arroz passa para o trigo”, comenta o pesquisador da Embrapa Cerrados.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa tem projetos em andamento que visam identificar fontes de resistência à brusone. Ainda não existem cultivares resistentes à brusone. Por enquanto, os produtores devem adotar o controle químico e manejo da irrigação adequados para diminuir a incidência do fungo. Albrecht salienta que a brusone pode atacar toda a parte aérea do trigo, porém o sintoma mais característico ocorre nas espigas. Nesta safra, até o momento, a doença está ocorrendo diretamente nas espigas do trigo. Não se observa a doença nas folhas.
As condições climáticas estão exigindo maior atenção do produtor para controlar a possível proliferação da doença na lavoura. O produtor deve ficar atento, principalmente, no estágio de espigamento. Quando a infecção ocorre no ráquis, a espiga apresenta branqueamento total ou parcial da parte imediatamente superior à lesão (ponto preto e brilhante no local de penetração do fungo), com esterilidade ou chochamento dos grãos. Monitoramento do clima e manejo da irrigação são essenciais.
O pesquisador ressalta que não existe fungicida curativo para a brusone. Os fungicidas que envolvem a mistura de estrobilurina mais triazol mostram controle mais efetivo da brusone. “Mas nenhum produto garante uma eficiência maior que 60% de controle”, destaca Albrecht.
Para um maior controle da doença é recomendado também um manejo diferenciado da irrigação. Para não manter a umidade por longo período, é recomendável aumentar a lâmina de água por aplicação e diminuir a freqüência das aplicações de água.
Para Albrecht, se as condições climáticas forem favoráveis ao aparecimento da brusone, “o triticultor pode fazer um controle químico com uma aplicação preventiva-erradicativa no final do emborrachamento”. A segunda aplicação de fungicidas deve ser feita, no florescimento, e uma terceira aplicação, 12 dias após a segunda se persistir o clima favorável à doença. “E talvez uma quarta aplicação 12 dias após a terceira se o clima continuar favorável ao aparecimento da doença”, complementa.
Em 2009, as lavouras de trigo irrigado ocupam em torno de 55 mil hectares do Cerrado do Brasil Central. A produtividade estimada, antes do período de espigamento, quando foi detectado o surgimento da brusone, era de 5 toneladas por hectare. A intensidade da perda na produção é determinada, geralmente, pela época em que ocorre a infecção e pelo órgão afetado na planta. “As perdas ainda não estão quantificadas, mas são significativas. Em alguns casos os produtores estão perdendo quase 100% da lavoura”, destaca.
Os especialistas acreditam que a qualidade industrial do trigo deverá ser afetada nesta safra. Em casos extremos, o trigo colhido de lavoura atacada pela brusone pode ser destinado apenas para uso como ração animal. A intensidade da perda na produção é determinada, geralmente, pela época em que ocorre a infecção e pelo órgão afetado na planta.

* Gustavo Porpino (RN648 JP)
Jornalista da Embrapa Cerrados
Fones: (61) 3388 9945 / 8116 9747
gporpino@cpac.embrapa.br

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