É preciso matar mais jovens.

Luiz Fernando Oderich,
Presidente da ONG Brasil Sem Grades


A opinião pública brasileira está perplexa diante da possibilidade concreta de liberação dos assassinos do jornalista Tim Lopes. Como pode ser? Não eram traficantes já com várias condenações anteriores? Não se valeram de tortura e vilania para executar seus crimes? Parece que foi ontem que isso ocorreu.

Ninguém sente mais a iniquidade desse tipo de justiça que os familiares das vítimas. Por isso, há quatro anos, liderados por Cleyde Prado Maia, do movimento “Gabriela Sou da Paz” ajudamos a coletar as assinaturas necessárias (um milhão e trezentas mil, em mais de cinco Estados da Federação), e fomos à Brasília apresentar um conjunto de mudanças necessárias ao processo penal brasileiro. Nós, pais e mães de todo Brasil, viajando às próprias expensas, entregamos ao então presidente do Senado, Renan Calheiros, a emenda popular que ele prometeu, na frente das câmeras, dar “urgência urgentíssima” na tramitação da matéria. No escurinho dos gabinetes, engavetou o projeto. O motivo: as assinaturas vinham acompanhadas do nome e da carteira de identidade das pessoas, mas faltava o número do título de eleitor!

Como se o voto não fosse obrigatório no país.

A bem da verdade, conseguimos apenas acabar com a figura do “protesto por um novo júri”. No entanto, para nós, a progressão da pena deveria de partir do total de anos a que a pessoa foi condenada. Por exemplo: se somados todos os crimes o bandido foi condenado a 150 anos de prisão, sobre esse número seriam contados os privilégios legais. Resolveria essa questão do Tim Lopes.

Agora completados dois anos da morte do menino João Hélio, já podemos ter certeza de que toda aquela brutalidade não foi suficiente para comover o Congresso Nacional. Precisamos matar mais jovens, precisamos imaginar “modus operandi” mais horroroso do que arrastar um menino pelas ruas do Rio de Janeiro. Como disse a ministra Ellen Gracie, aquele foi um momento de grande emoção, inconveniente para se mudar as leis. A emoção passou, exceto para os pais daquele menino e dos muitos outros estão sendo mortos diariamente, de modo mais discreto.

Talvez matando mais, as lágrimas dos familiares das vítimas um dia consigam amolecer o coração de pedra dos congressistas a endurecer as nossas leis molengas.

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