Lago Paranoá está encolhendo e pode virar o Tietê

Rosane Garcia

Você consegue imaginar o Lago Paranoá em situação semelhante à do  Rio Tietê (SP), um dos mais poluídos do país? O que parece ser um exagero é  um dos itens da agenda de preocupações do secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídrico do DF, Eduardo Brandão. Segundo ele, com pouco mais de 50 anos, o lago já perdeu cerca de 15% de lâmina d’água. O assoreamento avança muito rapidamente e as dragagens para retirar o excesso de resíduos que se acumulam no leito do Paranoá não são suficientes para reverter a situação. A continuar nesse ritmo o secretário arrisca prever que dentro de 20 anos o Lago fará parte das lembranças dos brasilienses.


Nos últimos anos, a ameaça piorou com a expansão das ocupações irregulares. Esse processo não poupou as nascentes, as matas ciliares ou a vegetação de galerias de pequenos córregos e rios que compõe a Bacia do Rio Paranoá e alimentam o lago.  O acrescimento populacional é outro elemento pressão sobre a crescente demanda por água no Distrito Federal.  Recuperar parte esse patrimônio hídrico é um dos grandes desafios da secretaria, a fim de estender a sobrevida do lago.

Limite do lago na região de deságue do Ribeirão
do Bananal em 1966, 1982 e 1994 legenda
 Caminho das Águas

“Um dos nossos mais importantes programas é o Caminho das Águas, que prevê o replantio de espécies nativas ao redor dos córregos e dos rios, a fim de recuperarmos a Bacia do Paranoá”, diz Eduardo Brandão. A questão está no rol dos projetos especiais da secretaria que busca, por meio da aplicação da lei de compensação ambiental dar efetividade ao plano de recuperação da bacia. O projeto prevê ainda a criação de áreas de convivência, com a edificação de pistas de Cooper, ciclovias, pontos de encontro para a terceira idade e  outros  equipamentos urbanos.O intuito é socializar o acesso às margens dos cursos d’águas, a fim de sensibilizar a comunidade para que ela se sinta protetora e fiscal dessas áreas. O projeto será levado à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) como exemplo de boa prática ambiental.

O presidente do Comitê de Bacia do Lago Paranoá, Paulo Sérgio Bretas de Almeida Salles, professor da Universidade de Brasília, embora não goste de fazer previsões, lembra que todo lago tende a desaparecer por estar na parte mais baixa da bacia hidrográfica. Assim, os lagos, de um modo geral, recebem os sedimentos que, ao longo do tempo, os vão mortificando. “Esse é um processo natural que podemos acelerar ou retardar”, diz o professor, ao acrescentar que o Paranoá não seria uma exceção.

 Área menor

O Lago Paranoá, formado em 1959, ocupava cerca de 48km² e, hoje, não chega a ter  40km² de área. Com pouco mais de 50 anos, essa redução é considerada expressiva e está associada à substituição de vegetação nativa pelos belos gramados das mansões que margeiam o lago. Para o assoreamento também contribuem a movimentação de terra na cidade devido à expansão da construção civil. Todos esses fatores, somados aos fenômenos naturais, como chuva e vento, carreiam terra que se sedimenta no fundo do lago.

De acordo com o professor Paulo Bretas, os efeitos do assoreamento são bastante nítidos na região próxima ao balão do Aeroporto, entre o Jardim Zoológico e a Candagolândia até a QI 5 do Lago Sul. “O local está bastante detonado, com a vegetação ocupando o espaço onde antes era água.” O mesmo ocorre na Ponte das Garças, nas proximidades da QI 9 do Lago Sul, e se repete na Ponte do Bragueto, no Lago Norte.

Apesar da previsão do secretário de Meio Ambiente, o professor Paulo Bretas lembra que no fim dos anos 1970, o Lago Paranoá viveu um momento trágico. Extremamente poluído pelo esgoto que recebia, ocorreu uma mortandade nunca antes vista de peixes. Na época, o episódio mereceu a manchete do Correio, devido ao mau cheiro que o lago exalava para toda a cidade.

A situação despertou a atenção das autoridades. Foram realizados altos investimentos e desencadeado o processo de despoluição do Paranoá. A balneabilidade foi recuperada, condição que, hoje, permite as pessoas nadar e realizar as mais diferentes práticas esportivas. Provavelmente, em poucos anos, será fonte de captação de água para consumo dos brasilienses. “É um dos poucos exemplos de um lago urbano que foi recuperado”, afirma o professor Paulo Bretas, que elogia o trabalho que vem sendo feito pela Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb).


Para saber mais
O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá foi criado por meio do Decreto nº 27.152, em 31 de agosto de 2006.  Para saber mais acesse: http://www.cbhparanoa.df.gov.br/

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