Guarani-caiová: É preciso ter compromisso com a vida
A questão dos guarani-caiovás é um exemplo histórico de injustiça e de descaso do Estado brasileiro. Há muitas décadas, esse povo indígena luta pelo reconhecimento do seu território, pelo seu tecorrá. Os suicídios, atitude extrema pela perda das referências, não sensibilizaram as autoridades, apesar de ser o caminho percorrido por adolescentes e adultos. A pressão de grupos religiosos, fazendeiros alienígenas ao território guarani-caiová sempre contou com o reforço da indiferença das autoridades brasileiras. Nos homicídios, há plena inversão dos fatos: as vítimas viram culpadas pela bala que saiu da arma dos adversários.
Diante da ameaça de
suicídio coletivo de 170 índios, uma enorme corrente se formou nas redes
sociais. A Justiça, por meio de instâncias diferentes, recuou da concessão da
imissão de posse a um fazendeiro que, desde sempre, foi um intruso.
Provavelmente, não foi um invasor porque quis, mas por haver todo um sistema
que conspira contra os mais elementares direitos dos guarani-caiovás e, no geral,
de todos os povos indígenas.
Quando a direita empedernida do Congresso Nacional
questiona a autoridade da Funai para definir as terras indígenas, coloca em
xeque a força do poder público para gerir a execução das leis e a gestão das
políticas públicas. Em última instância, coloca em dúvida o papel do próprio
Legislativo, autor das leis que garantem as prerrogativas dos órgãos
federais. É urgente uma revisão da atual política indígena, a fim de
enquadrá-la nos ditames constitucionais. É urgente tornar real o compromisso do
país com a vida, sem discriminação ou preconceitos, reconhecendo a nossa
diversidade e pluralidade étnica.
[Comentário sobre a reportagem http://www2.correiobraziliense.com.br/sersustentavel/?p=7306]
Rosane Garcia
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