NEGROS: Uma força ignorada


A chance de um jovem negro, entre 15 e 29 anos, morrer na região metropolitana do Distrito Federal é 2,9 vezes maior do que um não negro na mesma faixa etária. Por causas externas, como acidentes, esse risco sobe para 4,4. Mas, por homicídio, o perigo é, em média, 5,7 vezes mais potencializado e chega a 15,6, particularmente em Águas Lindas (GO). Os dados foram apresentados, no meio da semana passada, pelo Núcleo de Estudos Populacionais da Codeplan, na publicação Jovens negros e não negros: mortalidade por causas externas, na área metropolitana de Brasília, de 2000 a 2012, que considerou o DF e mais 12 municípios do Entorno. O documento leva em conta um recorte por raça/cor das informações disponíveis no Sistema Integrado de Mortalidade (SIM) do Sistema Único de Saúde (SUS).

Ele permite inferir que as intervenções do poder público foram insatisfatórias na região, situado no limbo, entre Brasília e Goiás. Revela também que o racismo não é apenas um aspecto ideológico, mas uma atitude que se materializa pela eliminação dos jovens afrodescendentes. Essa realidade é piorada pela a agressividade das forças de segurança pública, que utiliza do falso argumento de que o indivíduo negro resiste ao comando da autoridade.

A edição do Mapa da Violência 2014 revela que, de 2002 a 2012, o número de homicídios passou de 49.695 para 56.337, um incremento de 13,4%, superando aumento populacional de 11,1%. Somente em 2012, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes chegou a 29, quase três vezes maior do que o estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (10). Ou seja, a violência, há muito, é uma epidemia no país e, na maioria das unidades da Federação, o povo negro é o principal alvo, como ocorre no Distrito Federal e nos municípios dos arredores.

Hoje, a população negra corresponde a 55% dos brasileiros votantes. Apesar da crescente onda de racismo, mitigada pela figura jurídica da injúria racial, o processo eleitoral ignorou essa maioria de habitantes do país. Não houve referência à necessidade de estabelecimento de políticas voltadas para esse público, sobretudo para coibir as diferentes expressões de  violência das quais são vítimas. Os programas existentes não têm respaldo na estrutura de oferta de serviços do Estado, portanto, não surtem o efeito desejado.

A falta de visibilidade do povo negro se deve, em boa parte, à ausência dele do cenário político, assim como ocorre com as mulheres, que somaram 74,4 milhões de eleitoras, 6 milhões a mais do que em 2010. Enquanto a lei exige dos partidos reservar 30% das vagas a cargos eletivos para o público feminino, nada os obriga a garantir o mesmo espaço para os negros. Daí, a ausência de representantes afro-brasileiros no Legislativo, para que cumpram o papel de porta-voz das demandas reprimidas da população negra. Não é o Estado que resolverá essa questão, mas a organização dos negros, que deverá se impor frente às instâncias de poder e dos fóruns populares, levando em conta o seu potencial de votos. E vamos para 2018.
(Artigo publicado na edição de hoje do jornal Correio Braziliense)

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