E o meio ambiente? Sumiu

No próximo domingo, voltaremos às urnas para o segundo turno das eleições. Foram mais de 90 dias de propaganda eleitoral, que trouxeram aos eleitores cenas e discursos enfadonhos, engraçados e propostas inacreditáveis. Apesar das cenas bizarras e de todas as críticas à falta de criatividade dos programas e do elevado número de partidos, que despejaram centenas de postulantes a vagas do Legislativo e do Executivo, o momento político foi fantástico. É uma grande conquista do povo brasileiro, considerando que, meio século atrás, vivíamos à sombra asquerosa do obscurantismo, amargurados e sofridos pelas atrocidades da ditadura militar.

A campanha deste ano foi marcada por duelos agressivos entre os concorrentes à Presidência da República.  A corrupção, que, há muito se espalhou pelos organismos públicos como metástase, afeta órgãos vitais em todas as instâncias de poder e marcou o tom dos debates. A troca de acusações sobre quem foi o mais leviano ou criminoso no trato da coisa pública furtou o lugar de temas substantivos no dia a dia dos cidadãos. Foram excluídos das discussões, entre outros, assuntos como racismo, aborto, homofobia, as várias expressões de intolerância, mobilidade e reforma urbana e segurança em todos os aspectos.

Mas o que causou surpresa foi a indiferença às questões ambientais pelos que pretendem comandar o Brasil. A dimensão, a diversidade e a riqueza do patrimônio natural nacional colocam o país em posição de destaque frente às demais nações em todos os fóruns globais e, sobretudo, no que se refere a políticas para mitigar os efeitos rigorosos das mudanças climáticas.

Hoje, o país, enfrenta uma das piores secas das últimas seis décadas. São Paulo, a mais rica unidade de Federação, agoniza com a falta de água, que pune cerca de 10 milhões de brasileiros atendidos pelo sistema Cantareira. A crise bate à porta dos que moram na área da bacia do Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro. A nascente do São Francisco secou e a tragédia se espalha ao longo do rio, o que compromete a capacidade de fazer a integração nacional. Brasília, há muito, vive sob estresse hídrico.

Os conflitos pela água estão na agenda diária de milhões de brasileiros, mas à margem do debate político. Indiscutível que inflação, as oscilações do Produto Interno Bruto (PIB), do mercado de capitais, do desempenho da indústria e outros componentes da macroeconomia têm profundo reflexo no dia a dia de cada brasileiro. Mas, ainda assim, é lamentável que a importância do patrimônio natural, sobretudo da água, para a vida de todos tenha sido negligenciado no processo eleitoral.
(Artigo publicado na edição de hoje do jornal Correio Braziliense)


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