Recrudescem os homicídios no campo

Entre os dias 10 e 17 deste mês, quatro trabalhadores rurais ― três mulheres e um homem ― foram assassinados no campo. O aumento da violência foi denunciado, nessa terça-feira (19/8), pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), por meio de nota. Segundo a entidade, os homicídios foram anunciados, mas as autoridades de segurança pública nada fizeram para evitá-los. As mortes mostram que a escalada da violência avanço no campo, sem que os governos aplaquem a ira insana do latifúndio.

No sudeste do Pará, Maria Paciência dos Santos, 59 anos, foi morta, no último dia 12, atropelada por um caminhoneiro que avançou sobre 1,5 mil manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que marchavam pela BR-155. O grupo tentava chamar a atenção para o descaso com a reforma agrária. A trabalhadora morreu próximo à curva do S, onde ocorreu o Massacra de Eldorado dos Carajás, em 1996.

No dia seguinte (13/8), a ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura de União do Sul, em Mato Grosso, Maria Lúcia do Nascimento, foi assassinada a tiros. Ela morava no assentamento Nova Conquista II. Maria, outras famílias assentadas e dirigentes sindicais foram ameaçados pelo fazendeiro Gilberto Miranda. Eles registraram boletim de ocorrência e denunciaram a ação do latifundiário ao ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho. No entanto, a ex-sindicalista não conseguiu a proteção necessária para não ser morta.

Josias Paulino de Castro, 54 anos, presidente da Associação de Produtores Rurais Nova União (Aspronu), e a mulher, Ireni da silva Castro, 35 anos, foram vítimas de homicídio, no Distrito de Guariba, município de Colniza (MT), no último dia 16 (sábado passado).  Onze dias antes do crime (5/8), em Cuiabá, Josias, em audiência com ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino, e com várias autoridades de Mato Grosso, denunciou políticos da região por extração ilegal de madeira, agentes da Polícia Militar, por irregularidades, e órgãos públicos, por emissão ilegal de títulos de terras. Ele revelou a existência de pistoleiros na região.

“Estamos morrendo, somos ameaçados, o Governo de Mato Grosso é conivente, a PM de Guariba protege eles, o governo federal é omisso. Será que eu vou ter que ser assassinado para que vocês acreditem e tomem providências?”, teria afirmado Josias, prenunciando o seu destino.

Em julho, o Centro De documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, contabilizou sete assassinatos em 20 dias, em quatro unidades da Federação. Na comparação com o mesmo mês de 2013, o período foi o mais sangrento. De janeiro a 18 de agosto, ocorreram 23 homicídios em conflitos no campo, contra 21 em igual intervalo do ano passado. Ainda há três casos sob averiguação.

A CPT observa, na nota, que “toda essa violência se dá no momento em que a reforma agrária some dos programa de governo dos principais partidos que disputam a Presidência da República”. Segundo a instituição, a demarcação de terras indígenas e quilombolas estão, igualmente, paralisadas. “E os candidatos à Presidência assistindo de camarote, em nenhuma resposta clara a essas demandas em seus planos de governo”.

A Comissão Pastoral da Terra “espera que providência efetivas sejam tomadas no caso das mortes recentes e que não sejam reduzidas a grupos de trabalho que,“até o momento, não se provaram eficazes”. A entidade cobra ainda “que a apuração dos fatos seja eficiente, que o Judiciário não seja subserviente, que a legislação não seja flexibilizada e o Executivo crie condições efetivas de manter a população no campo”.

Fonte: Comissão Pastoral da Terra

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