Comitê lança campanha para salvar o Velho Chico


Por Rosane Garcia

Mais de 15 milhões de pessoas (3% da população nacional) vivem na área da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que abrange 504 municípios, totalizando uma área de 639.920km². Essa parcela de brasileiros está em uma das regiões mais frágeis do país, onde a oferta de água, essencial à vida, está ameaçada. O alquebrado velho Chico suplica por socorro, pois não dá conta de atender a tantas demandas que lhe são impostas pelos setores elétrico, industrial, agrobusiness, agricultura familiar e ainda garantir água para o consumo humano e dessedentação animal.
Para socorrer o rio que agoniza, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHRSF) lançou a campanha a fim de definir 3 de junho como Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, com o slogan “Viro carranca para defender o velho Chico”. Quatro temas são abordados na iniciativa: revitalização, vazão ecológica, povos da bacia e disponibilidade hídrica. O presidente do CBHRSF, Anivaldo Miranda, diz que, além desses objetivos, a campanha buscará reforçar a importância da água perante a opinião pública, com foco no trabalho desenvolvido pelo comitê. Ao longo do rio, deverão acontecer várias ações, a fim de alertar a sociedade para a necessidade de revitalização do São Francisco.
“A campanha não é contra ninguém. É simplesmente a favor do Velho Chico. A ideia não eé de protestar, mas alertar pa nossa população para o problemas enfrentados pela bacia e da a todos os segmentos da sociedade civil, do poder público e da iniciativa privada a possibilidade de anunciar alguma boa ação em favor do rio e de seus afluentes”, explica o presidente do Comitê da Bacia do São Francisco, Anivaldo Miranda.

SECA
A estiagem dos últimos três anos, que levou ao colapso o Sistema Cantareira — conjunto de represas que abastecem parte da Grande São Paulo —, também afetou a bacia do São Francisco, que tem, como agravante, as grandes hidrelétricas. Elas regulam as vazões do rio, a fim de produzir energia. Assim, muitas das vezes, comprometem a oferta de água para os demais usuários da bacia.
No lançamento da campanha, na última quarta-feira (28/5), Anivaldo Miranda, ilustrou a coletiva de imprensa com imagens dramáticas de vários pontos do São Francisco. Ele citou o município alagoano de Belo Monte, onde o nível do rio diminuiu tanto que é preciso bombas flutuantes para garantir a captação de água. O drama se repete na cidade de Pão de Açúcar, no mesmo estado. Em Propriá (SE), o perímetro irrigado está totalmente comprometido. Ao longo do curso d’água, há vários trechos nos quais os bancos de areia aumentaram e as margens foram erodidas, o que permite intrusão do mar e aumento da sanalização das águas do rio.
Em Três Marias, a previsão de colapso tem data marcada: julho próximo.  “Já antevejo os peixinhos morrendo na lama”, diz Silvia Freedmann Ruas Durães, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias e secretária executiva da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco do Comitê Federal do Rio São Francisco. Segundo, este será o cenário se for mantida a atual vazão de 250m³/s  e não haja chuva. “Até julho, vamos zerar o reservatório”, afirma.
“A bacia do São Francisco precisa de um projeto estratégico para o presente e o futuro”, afirma Anivaldo Miranda, diante de muitas tragédias que margeiam o velho Chico. Ele lembra que o aumento populacional, a expansão das atividades econômicas e os fenômenos climáticos, principalmente o aquecimento global, são fatores que pressionam o rio. Todos esses elementos fortalecem a necessidade de construção de um pacto das águas, que se antecipe aos conflitos pelo uso das água do rio. “E deve começar pelo setor elétrico, que faz uso hegemônico do São Francisco”, afirma o presidente do Comitê da Bacia do São Francisco.

PROGRAMAÇÃO DE 3 DE JUNHO DE 2014
Material elaborado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco:
Baixo São Franciso
Em Penedo, Alagoas, no Baixo São Francisco, a comunidade acadêmica estará representada por meio de estudantes de três instituições de ensino superior - Universidade Federal da Alagoas-UFAL, Universidade Federal da Sergipe-UFS e Universidade Tiradentes – UNIT - que farão exposição de painéis temáticos sobre afetos ao rio. A participação dos estudantes dará início, às 7h30, no auditório do Colégio Diocesano de Penedo (Largo de Fatima, S/N – Centro) à programação de atividades, que contará ainda com café da manhã regional, relatos das vivências sob a ótica das comunidades tradicionais e dos povos indígenas, caminhada e um ato às margens do rio com ritual de derramamento de águas limpas e operação simbólica de peixamento.  Haverá também atrações culturais e musicais.

Alto São Francisco
Já no Alto São Francisco, a partir das 8h, uma barqueta percorrerá o trecho do rio entre as cidades mineiras de Três Marias e Pirapora. Haverá limpeza das águas do rio e lançamento da pedra fundamental do aquário do rio São Francisco, com a criação do Centro hídrico-social ambiental do rio. Ainda em Minas Gerais, na cidade de São Leopoldo, haverá doação de mudas, das 13h às 17h, na Praça da Prefeitura e, em Itaúna (MG), o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) realizará blitz educativas em sinais de trânsito. A intenção é sensibilizar motoristas e pedestres acerca da importância do rio São Francisco.

Médio São Francisco
As cidades baianas que integram o Médio São Francisco, como Bom Jesus da Lapa, Ibotirama, São Desiderio e Irecê, também participam da campanha do Dia Nacional em Defesa do Velho Chico.  Em Bom Jesus da Lapa, logo cedo, a população estará envolvida em uma caminhada em direção ao rio pela Avenida Manoel Novais até o Cais da cidade. Em seguida travessia de barcos e lanchas até a comunidade Barrinha. Nas margens do rio haverá plantação de mudas e um show com artistas da terra no chamado “Barranco”. No encerramento, às 19h30, haverá palestra e debates no Campus da UNEB.

Em São Desiderio, a caravana da carranca passará em povoados e escolas do município, com faixas, camisas e panfletos. Na Agrovila 18, na Serra do Ramalho, pela manhã também haverá palestra na Escola Educandário de Primeiro Grau Senhor do Bonfim e distribuição de mudas. Já em Irecê, haverá concentração em frente à UFBA e debate com membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Em Ibotirama também haverá concentração, com ato simbólico e palestra na beira do rio e multirão de limpeza na nascente do rio Santo Onofre, além de apresentação cultural de indígenas da aldeia Tuxá e show de cantores locais, no Barco Escola São Salvador.


Submédio São Francisco
- Para simbolizar a vida no rio, a comunidade do Submédio São Francisco concentrará as atividades no trecho entre as cidades de Juazeiro, na Bahia e Petrolina, em Pernambuco. A partir das 14h, haverá uma caminhada saindo do bairro Ancari, no município baiano, em direção à orla do rio, na altura do Vapor Saldanha Marinho. Deste ponto, a população mobilizada irá se deslocar pela ponte Presidente Dutra até a Ilha do Fogo, onde acontece a soltura de alevinos (peixamento) e devolução de água limpa para o rio, por meio de potes, moringas e baldes trazidos pelos moradores. A atividade contará com ampla participação dos estudantes das escolas locais, que suspenderão as aulas mais cedo para integração da comunidade escolar na mobilização.

A campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco-CBHSF, tem atraído a atenção da sociedade e garantido a adesão de comunicadores, artistas, ativistas e até de moradores de cidades distantes do rio e seus afluentes, por meio de apoios e depoimentos nas mídias sociais. A campanha também tem dado destaque a discussões relevantes para a vida do rio como a vazão ecológica, disponibilidade hídrica e os usos múltiplos das águas. Para mais informações sobre a campanha, além de textos, imagens e material audiovisual, acesse: http://virecarranca.com.br/

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