Cidades e as mudanças climáticas



As cidades ocupam 2% das terras do planeta e são responsáveis por 70% das emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. Reduzir essa participação e mitigar os impactos nas condições de vida, sociais e econômicas das áreas urbanas é a questão em debate por cientistas de diferentes partes do mundo.A Urbeviron (Associação Internacional de Planejamento e Gestão Ambiental) promoveu encontros na Coréia do Sul, Alemanha, Egito e em outros países. Brasília será, de 18 a 20 deste mês, palco do 5º Seminário Internacional da instituição, que tratará do tema Soluções urbanas para as mudanças climáticas. Na cidade, estarão especialistas das principais universidades dos Estados Unidos, da Alemanha, da Argentina, de Brasília, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

“Não temos, como acadêmicos, o poder de definir políticas públicas, mas podemos contribuir para que elas sejam traçadas com base nos resultados dos estudos que realizamos”, explica a coordenadora do encontro e professora de planejamento urbano e infraestrutura Maria do Carmo Bezerra, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). Ela participou do último seminário, em 2011, no Egito, quando teve aprovada a sua proposta de trazer esta edição para o Brasil. 

Os extremos climáticos — seca, veranico, vendavais, tempestades, inundações e outros eventos intensos — implicam sérias conseqüências, e impõem necessidades de adaptações do meio urbano. Para ilustrar, a professora Maria do Carmo lembra a tragédia ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro, há cerca de dois anos, quando fortes temporais deixaram milhares de famílias desabrigadas e ocorreram muitas mortes devido às inundações e aos deslizamentos de terra.

Em Brasília, a Defesa Civil do Distrito Federal tem mapeadas as áreas críticas severamente afetadas nos períodos de chuvas. No entanto, reconhecer os danos que os fenômenos climáticos podem ocasionar não é suficiente. É preciso adotar medidas preventivas, como as sugeridas pelos estudos apresentados pelos especialistas. “Há como se prever quais áreas não podem ser ocupadas”, diz a professora Maria do Carmo como exemplo de uso adequado do solo. Ela lembra que não basta retirar as famílias das zonas de perigo, mas é essencial evitar o retorno delas às áreas que se revelam frágeis aos fenômenos climáticos.
  
Interferências
Assim, mudanças ambientais passam a interferir no social e no econômico das cidades. De acordo com a professora, em determinadas situações sai mais barato para o Estado reassentar as pessoas em outras áreas a investir em drenagens ou em outros recursos, para mantê-las em locais que se revelaram suscetíveis aos eventos climáticos. “Entre manter as famílias em lotes à beira de córregos, principalmente na região do cerrado, ficaria menos oneroso para o governo instalá-las em uma área, por exemplo, no Guará. Os investimentos seriam bem menores.”

Soluções no campo do transporte coletivo, da distribuição de energia, abastecimento de água e disposição de resíduos para diminuir as emissões de carbono podem ser oferecidas pelos especialistas. “Muitas delas não dependem exclusivamente de tecnologia, mas de vontade política dos governos em adotá-las”, afirma a professora. 

Lixo
No Distrito Federal, como na maioria das cidades brasileiras, a destinação correta do lixo ainda é um dos grandes problemas. Apesar das recorrentes promessas de vários governos, a capital da República não dispõe de um aterro sanitário e convive com o lixão da Estrutural, que continuamente lança gases de efeito estufa na atmosfera, contamina o solo e mananciais.

Maria do Carmo lembra que, entra e sai ano, e a remoção do lixão não ocorre. O edital aprovado pelo Tribunal de Contas do DF, há mais de três anos, voltou a ser avaliado pelo atual governo. Segundo ela, a possibilidade de compartilhamento das obras do aterro sanitário entre empresas privadas dilui responsabilidades caso ocorra algum erro em uma das etapas. “Uma empresa sempre vai culpar a outra e, ao fim, não haverá culpados”, alerta, ao acrescentar que o mais grave será a falta de controle ambiental e o risco de manutenção adequada do sistema.

O 5º Seminário Internacional Urbenviron Brasília 2012 fará uma abordagem de todos esses e outros temas. O encontro será aberto, quinta-feira à noite, pelo jornalista Washington Novaes. Ao fim, as discussões e a troca de experiências entre os especialistas darão  origem a um documento à disposição da sociedade e dos governantes.


PROGRAMAÇÃO

1. GOVERNANÇA AMBIENTAL E POLÍTICAS PÚBLICAS
Marco regulatório;
Planejamento territorial como instrumento da governança das cidades;
Gestão de riscos e desastres;
Capacitação das autoridades locais e das organizações da sociedade civil;
Parcerias entre o governo, sociedade e setor produtivo;
Disseminação das informações entre os diferentes atores sociais;
Experiências exitosas.


2. TERRITÓRIO, MOBILIDADE URBANA E TRANSPORTE
Sistemas de transporte urbano sustentáveis;
Modelos e instrumentos para o planejamento, desenho e operação dos transportes urbanos;
Experiências exitosas.


3. PLANEJAMENTO URBANO PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS:
Prevenção, adaptação e mitigação

Planejamento do uso do solo como prevenção dos eventos climáticos extremos;
Adaptação e mitigação dos desasres naturais;
Urbanização sustentável: conceitos e propostas;
Padrões e códigos para bairros sustentáveis;
Métodos de planejamento ambiental e avaliação estratégica de impactos ambientais.


4. INFRAESTRUTURA URBANA SUSTENTÁVEL: Abastecimento,esgotamento sanitário, energia e resíduos sólidos
Infraestrutura sustentável: Tecnologias ambientais sustentáveis ou eco-tecnologias;
Métodos inovadores de infraestrutura para adaptação às mudanças climáticas;
Planejamento Ambiental de Saneamento local e regional;
Tratamento de águas residuais urbanas: disposição, reuso e gestão do lodo;
Gestão dos Resíduos Sólidos: tratamento, disposição, reciclagem, reuso e recuperação;
Eficiência energética, energias renováveis e requisitos para as mudanças do clima;
Drenagem urbana;
Contaminação do solo e áreas degradadas;
Experiências exitosas.


5. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Gestão das bacias hidrográficas e planejamento territorial;
Abastecimento, tratamento e distribuição de água;
Marco regulatório;
Políticas e estudos de avaliação;
Experiências exitosas.


SERVIÇO
Seminário Internacional Urbenviron Brasília 2012ª
Organização: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília
Data: de 18 a 20 de outubro
Abertura: às 19h, de 18 de outubro
Local : Câmara Legislativa do Distrito Federal, na Praça Municipal, no Eixo Monumental de Brasília.

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